Hoje vou escrever aqui este poema para o amigo N.Como não tenho muito jeito para escrever arranjo sempre "As palavras certas nos sítios certos.Quando são textos de terceiros, além dessas características, podemos abordar o que nos vai na alma, sem nos expormos..."
Então aí vai de Álvaro de Campos, porque acho que sim:
Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.
Mais vale arrumar a mala.
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