sexta-feira, 12 de agosto de 2005

para mim...

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?


Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

para a viagem é preciso...

Hoje vou escrever aqui este poema para o amigo N.Como não tenho muito jeito para escrever arranjo sempre "As palavras certas nos sítios certos.Quando são textos de terceiros, além dessas características, podemos abordar o que nos vai na alma, sem nos expormos..."
Então aí vai de Álvaro de Campos, porque acho que sim:

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)


Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar

Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.


Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Mais vale arrumar a mala.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Notas soltas

" I still smell you on my fingers and taste you on my mouth"
(Ana eFe)


"Nunca nos habituamos a ser menos importantes para as outras pessoas do que elas são para nós."
(Graham Greene in "O terceiro Homem")




"O erotismo tem um rosto; depende do que passa pela cabeça ou pelo coração das pessoas. Quando se deseja alguém, a coisa começa sempre pela cabeça, depois é que se desce(...)"
(Almada Negreiros in "Judite-Nome de Guerra")

sexta-feira, 5 de agosto de 2005


Regresso a cultos perdidos desde Outubro:
  1. Injecção diária de Antena3(tinha saudades)
  2. Remexer, abrir, folhear os meus livros, privados da luz do dia, sufocados em caixas
  3. Regresso à leitura
  4. Muito importante, o jornal, para os viciados, como o pão fresco pela manhã, que saudades de ler o jornal pela manhã...




    O que ficou da última leitura:

    (...) “ Fechou os olhos e veio-se, a alma a sair-lhe da boca, aos soluços. Apaguei o cigarro, abri a braguilha e vim-me para dentro da sua boca com um jacto branco, aos espasmos que não pareciam ter fim.” (...)

    (in “Ladrão de Fogo” de Pedro Paixão)

    Por vezes fico chocada com a literatura. Não por puritanismo, não sou puritana, ou nojo, na realidade quando leio alguma passagem do género, fico um pouco chocada, incomodada??!! Não sei bem qual o sentimento, talvez tenha a ver com a nossa imaginação.
    É que, a literatura assim escrita, choca mais que um filme pornográfico. É bem mais simples ver sem esforço, que montar toda a imagem no nosso cérebro.
    Grande parte dos nossos “problemas” passam pela nossa educação fundada nos preceitos e preconceitos religiosos, “proibição”, em que até pensar, ou especialmente pensar era uma grande heresia. (Deixem-me dizer-vos que não ligo a mínima à religião mas não consigo apagar determinados “enraizamentos” da infância...), para mim a religião não passa de uma organização de agiotas e charlatões, sugadores de mente, extorquidores da alma, demolidores de inteligência!
    Mas regressando ao problema inicial, é mais fácil ver os outros em cenas do que imaginarmo-nos a fazê-las... discordem comigo...
    E há quem fale da nudez exposta nos livros do Manara. Este, e segundo a definição no dicionário, eu assumo como erótico “...relativo ao amor sensual...”, está bem, também tem cenas explícitas e eu sou suspeita, olho ao traço do homem! Já a pornografia encaixa perfeitamente na transcrição acima feita: “...arte ou literatura que tem por assunto actos Obscenos...”
    Mas se quiserem chocar-se com a literatura aconselho:
    “A Filosofia da Alcova” do Marquês de Sade
    “A casa dos Budas ditosos” de João Ubaldo Rodrigues
    Ou ainda “Antes que anoiteça” de Reinaldo Arenas, apesar de não estar na linha dos anteriores tem algumas passagens explicitamente chocantes.


    Post-scriptum: Não pensem, “devassamente”, que foi a única passagem, ou a globalidade da história, que me ficou do livro!!
    DEPRAVADOS!

vide: "Milo Manara, the world-famous Italian Erotic Artist."

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Embirrações##

O mau atendimento em qualquer balcão deixa-me muito irrrrrrrrriiiiitada!
Acho que não tem a ver com alguma formação precisa, mas sim com a formação base de cada individuo. como dizia o pedopsiquiatra e psicanalista João dos Santos, qualquer coisa deste género ou pelo menos com este sentido, quem não for educado na infância, dificilmemte ou nunca conseguirá fazê-lo pela vida fora, eu concordo com este senhor.
uma citação do próprio, que define a base de todo o seu trabalho: “O segredo do Homem é a própria infância”.