domingo, 4 de julho de 2010

destruir o valor do acto intelectual

Nem toda a gente é leitora, mas acho que, no fundo é porque as circunstâncias fazem que não sejamos todos leitores. A possibilidade está em todos nós. O que quero dizer é que suponho que há pessoas que nunca se apaixonam, suponho que há pessoas que nunca viajam, suponho que há pessoas que não têm uma certa experiência do mundo. E da mesma maneira, existem muitas pessoas que não são leitoras. Mas a possibilidade está dentro de nós.
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Os leitores nunca foram a maioria. Se, por exemplo, todos os espectadores de um único jogo de futebol comprassem um livro, numa tarde, esse livro passaria a ser o best-seller mais espectacular da história da literatura.
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Estamos a tornar-nos mais estúpidos porque vivemos numa sociedade na qual temos de ser consumidores para que essa sociedade sobreviva. E para ser consumidor, é preciso ser estúpido, porque uma pessoa inteligente nunca gastaria 300 euros num par de calças de ganga rasgadas. É preciso ser mesmo estúpido para isso.
Essa educação da estupidez faz-se desde muito cedo, desde o jardim de infância. É preciso um esforço muito grande para diluir a inteligência das crianças, mas estamos a fazê-lo muito bem. Estamos a conseguir destruir aos poucos os sistemas educativos, éticos e morais, o valor do acto intelectual.
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um dos grandes problemas actuais dos bibliotecários é que os jovens que chegam às bibliotecas, e que estão habituados a utilizar a internet para fazer uma espécie de colagem de informação, não sabem ler. Não sabem percorrer um texto para extrair aquilo que precisam, repensá-lo, dizê-lo com as suas próprias palavras, comentá-lo, associá-lo ou resumi-lo - e sobretudo memorizá-lo.
Alberto Manguel



mais ainda na ípsilon de 2 de julho, sexta-feira

4 comentários:

Luís Cardoso disse...

E pronto... Vou levar este texto comigo pela Vida...

deep disse...

Eu não dou 300 euros por umas calças rasgadas! Espero que isso seja bom sinal. :))

Não comprei o Público na 6.ª. A avaliar por estes excertos e por outros que li ontem, fiz mal.

De certa maneira, as palavras de Manguel lembram-me o enredo de "Fahrenheit 451" do Ray Bradbury. Penso que sabes porquê.

Obrigada pela partilha. Beijocas

Anónimo disse...

mas 'deep' o Farenheit é uma 'ficção... AH!

bjis Mtis

maria3

Dulce disse...

Bom, estou como tu: ainda não dou 300 euros por umas calças rasgadas. A ver se não me esqueço nunca deste texto!...